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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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quarta-feira, 6 de novembro de 2013



 A imensidão do dicionário parece ter sumido, em algum momento esqueci o significado das palavras, tranquei as cordas vocais, mas não pude deter os olhos.
 Hoje minha alma só queria repousar muda e apenas com os olhos dispus a me decodificar. É como se a chuva caísse no chão muda. É como se todas as coisas dentro de mim quisessem apenas ser olhadas.
 Não encontro a definição das palavras, nunca estive tão desarticulada. 
 É como se a palavra não falada dentro dessa caverna interna que criei se transformasse em pontudas estalactites me furando.
 Meus dedos desenvolveram espinhos, a dor é tão nítida que tudo que faço é impregnado por ela. Até escrever se tornou um fardo e a vontade de calar as palavras é mais forte que tudo. Tem dores que calam a escrita? Ou será que me esqueci como se escreve? 
O fato é que parece que faz uma eternidade que estou escrevendo este pensamento ensaguentado. 
 Às vezes é mais agradável ficar nessa caverna de letras que criei. 
No escuro escrevo no espaço das entrelinhas. Só enxergo a alma fazendo esforço como se quisesse pular de dentro de mim me implorando que gesticule pelo corpo alguma letra. 
 As palavras não querem fazer mais sentido uma perto da outra, a falta de sintonia nunca foi tão grande, e o tempo da pausa parece tomar toda esta partitura da alma. 
As músicas não dizem nada, se tornaram um idioma estranho aos tímpanos, mas também não quero escutar profundamente. Estou trancada no silêncio que percorre das cordas vocais até as falanges das mãos. Estou como uma pausa na partitura esperando a próxima nota. A continuidade.
 Passo horas refletindo no sentido das palavras e o que aconteceria se em algum momento o dicionário deixasse de existir nas memórias. 
 Seriam as palavras, como uma doença que habita em seu corpo, mas antes de saber da existência você não percebe os sintomas. Se não existisse tal palavra será que a dor seria mesmo a dor? Será o nomear o saber o significar capazes de criar os sintomas. Como seria se o nome tristeza não existisse.
As palavras também necessitam serem tocadas para existirem, e são seus notáveis sinais que sinto agora. 
Não é porque estou calada que eu não esteja me alimentando de letras. 
Se os olhos falam, eis a oportunidade.