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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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domingo, 19 de janeiro de 2014



       Existem colecionadores de todos os tipos e sou uma admiradora de todos eles, gosto mais dos que colecionam raridades, algo incomum, algo abstrato e silencioso. Pelo menos essa parte da minha coleção que vou relatar não pode ser tocada a não ser por meu cérebro. Sou uma colecionadora de espectros, espectros mentais. Se você já viveu em sua imaginação, se já morou em castelos ou ruínas feitos de palavras, certamente isso não será em braile ou talvez sim.  Já perdi o cálculo de quantas vezes morei aqui nesse lugar que ao mesmo tempo em que é abandonado e cheio de pó também é habitável, pelo menos por mim e meus amigos espectros, prefiro chamá-los assim, espectros, de formas embaçadas e sombras do meu próprio eu. Não dá para contar e perceber a imensidão de sinapses que foram utilizadas nesses anos, mas parece que essa semana eu superei a ultima meta. É melancólico pensar que tudo que vivi de poesia apenas passou pelas minhas sinapses neurais e nunca houve um reflexo, uma ação se quer no mundo exterior que fizesse valer as descargas elétricas desperdiçadas. Eu quero um reembolso dessas sinapses, quero preenche-las de algo real. Quero reusá-las, tirá-las da pasta de esquecimento, da pasta do deixar para pensar outro dia. Mas onde, onde estão as pessoas reais. Será que o mais perto do real apenas vive em meus pensamentos? Nada mais introdutor do que interrogações.  
Isso de imaginar futuros ainda vai me destruir, isso de querer criar rostos desconhecidos que combinem com a lentidão da música de fundo, isso de inventar esbarrões de olhares, sorrisos tortos, olhares de canto, isso de dançar com desconhecidos pela rua vazia e anoitecida ao som da sua música favorita do momento, isso de estranhamente estar atravessando o sinal e encontrar o estranho da sua vida, isso de se apaixonar pelos silenciosos a espera do ônibus, isso de querer ter diálogos estelares com alguém que mal imagina que eu o observo, queria dizer que estou te orbitando. Queria insanamente uma conexão com as tuas sinapses.
Sou muito sonhadora para um ser humano, meus olhos são óvnis querendo contatar um espaço nos seus olhos. Estou escrevendo porque não posso entrar no seu pensamento como você entrou no meu. Você jamais lerá isto se eu não te disser que o seu nome ocupa as entrelinhas. E isso me expõe a uma zona confortável, mas até quando? Até quando me permitirei viver apenas sonhando chorando e criando rimas mentais. “Viver sonhando e esquecer-se de viver, viver sonhando e esquecer-se de viver, viver sonhando e esquecer-se de viver.” Repito para mim ao reflexo do espelho, mas sou um espelho quebrado e vejo várias partes de mim em dimensões diferentes, assimilares.  Mas fui eu quem decidiu viver assim, viver em meio a pensamentos. É o único lugar que ninguém pode entrar fisicamente, o único lugar que visitas indesejáveis não aparecem, o único lugar que eu mesma posso criar o caminho das palavras, lugar este que também é inevitável não haver o inesperado, de vez em quando alguma sinapse não programada (como se pudesse fazer tal coisa) acontece. Aconteceu um miúdo reflexo da sua ação tímida que entrou em mim sem eu perceber, como um caco de vidro ao penetrar a pele ou um cisco em contato com os olhos começando a me incomodar. E assim que analisei meus pensamentos você estava lá, guardado e compactado feito DNA, não sabia que existia tanta informação minuciosa de um estranho dentro de minha mente, os detalhes que o cérebro captou ao seu respeito foi de tamanha precisão que quando eu necessitei regressar cada coisa que pensei haver perdido, estava tão vivo em mim como se no exato instante. É mágico, o cérebro é magia. Tudo foi guardado inconsciente, como um portal para outro mundo que eu criei para não correr o risco de acontecer de verdade. Mas quando eu fiz acontecer quando eu parei para pensar em você, você já estava “ribossomado”. Nenhuma célula de defesa dessa imensidão chamada organismo humano pode lutar contra você, não existe células naturais killers tão potentes contra pensamentos.
Você havia se tornado mais um espectro, mais um para a coleção de espectros que já foram minha imaginação. Mais um sonho. Mais um será. Na verdade eles somem com o tempo, os espectros. Eu os desgasto até suas distorções não sobrarem em nada, nada em que eu possa construir de novo e aí é quando há aquela pausa dissimulada em que já basta de ser criadora de ficção mental até que, até que um pequeno gesto sugere mais um que daria um bom espectro.
Seria eu uma platônica de meus próprios sonhos? Seria eu uma sombra inquieta procurando me fundir a imagem real? Sou uma constelação incompleta em um céu nublado. Alguém olha para o céu na minha direção sabe que eu estou naquele lugar porque uma pequena amostra das estrelas que me compõe aparece meio ofuscada pelas névoas, você sabe que eu estou ali, mas não me vê por completo e espera outro dia até o céu estar limpo, até que eu esteja visível. Mas quando o céu estiver limpo é o tempo de mudar de direção, eu já não estarei naquele mesmo lugar que você busca. Estou sempre me distanciando, parecem anos-luz de distância, uma luz que não conhece o brilho da outra.  Você é um espectro e não vejo o seu brilho real. Roube-me para a sua dimensão, me seqüestre para o seu mundo. Cansei de viver nessa dimensão oceânica e observadora chamada olhos. Mas sempre estou expandindo esse espaço ocular. Salve-me da próxima explosão. Não quero me espalhar novamente nessa vastidão cósmica. Os espectros não são assustadores até que haja uma personificação. Pessoas machucam e por isso eu as transformei em espectros, apenas fantasmas na minha mente, vagando pela vastidão cerebral. Será que vale à pena você se tornar real, eu me pergunto. 

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