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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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segunda-feira, 12 de maio de 2014






Eu queria escrever no caminho das tuas veias e artérias 
sinta a pulsação 
Eu queria escrever nas tuas válvulas 
sinta os caminhos se abrirem
Eu queria escrever nos teus neurônios
sinta as respostas
Eu queria escrever no caminho das tuas fissuras cerebrais
sinta os retornos
Eu queria escrever nos teus ossos
sinta a resistência
Eu queria escrever nas tuas células
sinta a vida 
mesmo que ainda no seu exterior o silêncio da existência te faça sentir morto
Eu queria escrever
cubra as tuas orelhas um instante com as tuas mãos 
e ouça
Ouça o som da vida de dentro.



sábado, 3 de maio de 2014








  
Dizem que somos poeira das estrelas, somos formados da mesma composição do universo. Somos universos particulares, cheios de constelações neurais e aglomerados de células. Me encontro neste instante em um aglomerado feito de palavras e imagens retidos no hipocampo. O cérebro é dos meus universos o mais favorito. 
Como um espaço tão visivelmente pequeno e de massa tão irrelevante pode ser tão cheio de imensidões? E como as palavras podem ser confundidas em peso maior até que a própria massa encefálica? 
Curioso que amanheci em uma supernova. Dizem que as estrelas mortas superam em brilho galáxias inteiras. É como se eu fosse um pontinho como todos os outros no céu, um pontinho brilhante e quente. E só sou notada de forma separadamente especial quando me finalizo. Estrelas tem hidrogênio em reserva e vivem dele. A vida, ela gasta de forma acelerada toda a nossa composição de hidrogênio. Digamos que o hidrogênio são os nossos sonhos que são consumidos inteiramente sem na verdade terem se formado. Às vezes ele ainda estava necessitando de uma transformação, de uma fusão maior. E sem forma de sonhar, nos encolhemos e fragilizados nos superaquecemos com o restante. Com a nossa última esperança. Então consumidos nós vamos criando no nosso centro uma forma de expandir, uma forma de mutação e é dessa maneira que nosso núcleo explode intensamente. E é nessa explosão, é apenas depois dela, que coisas novas se formam. Precisamos nos desmontar da nossa localização para constelar outra vez. Somos destroços a todo tempo, poeira outra vez. 
Explosões são também formas de criação.
Mas há tempos em que formamos uma grande massa de sonhos esquecidos e a esperança se torna um peso. E quando expandimos, essa grande massa se implode e um buraco negro nasce dentro de nós. Escondemos o mundo para ver se esquecemos que estamos nele. Finalmente entramos no nosso próprio buraco e nos esquecemos ali na escuridão. No escuro ninguém pode nos ver como somos e se tal coisa não pode ser feita, então estamos seguros da dor da existência, da dor da não aceitação, da dor da inferioridade, da dor de ser apenas um entre multidões. 
Mas a luz revela tudo. Tudo se faz. Tudo se torna. Mesmo na escuridão da noite, com um pequeno faixo de luz é possível ver a sombra projetada das coisas, é possível ver que estamos ali.
Amo o calor da luz. Eu, que mais pareço um cometa gelado caindo em direção a ela, a luz transforma as coisas, cria brilho em uma simplória pedra de gelo suja. 
É esse calor abundante e aquecedor que me afasta dessa matéria escura que se expande as vezes ao meu redor. 
Eu existo porque a luz me molda. A luz me dá forma. É assim que esqueço que um dia fui sem forma e vazia. É assim que me aceito no universo. 
Tudo que tem luz no universo é para ser olhado, se não existisse a luz, não existiria a observação. Sem luz não poderíamos ler palavras e nem ver o interessante aspecto galáctico dos olhos.
De olhos fechados é impossível ver a luz.