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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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sábado, 3 de maio de 2014


  
Dizem que somos poeira das estrelas, somos formados da mesma composição do universo. Somos universos particulares, cheios de constelações neurais e aglomerados de células. Me encontro neste instante em um aglomerado feito de palavras e imagens retidos no hipocampo. O cérebro é dos meus universos o mais favorito. 
Como um espaço tão visivelmente pequeno e de massa tão irrelevante pode ser tão cheio de imensidões? E como as palavras podem ser confundidas em peso maior até que a própria massa encefálica? 
Curioso que amanheci em uma supernova. Dizem que as estrelas mortas superam em brilho galáxias inteiras. É como se eu fosse um pontinho como todos os outros no céu, um pontinho brilhante e quente. E só sou notada de forma separadamente especial quando me finalizo. Estrelas tem hidrogênio em reserva e vivem dele. A vida, ela gasta de forma acelerada toda a nossa composição de hidrogênio. Digamos que o hidrogênio são os nossos sonhos que são consumidos inteiramente sem na verdade terem se formado. Às vezes ele ainda estava necessitando de uma transformação, de uma fusão maior. E sem forma de sonhar, nos encolhemos e fragilizados nos superaquecemos com o restante. Com a nossa última esperança. Então consumidos nós vamos criando no nosso centro uma forma de expandir, uma forma de mutação e é dessa maneira que nosso núcleo explode intensamente. E é nessa explosão, é apenas depois dela, que coisas novas se formam. Precisamos nos desmontar da nossa localização para constelar outra vez. Somos destroços a todo tempo, poeira outra vez. 
Explosões são também formas de criação.
Mas há tempos em que formamos uma grande massa de sonhos esquecidos e a esperança se torna um peso. E quando expandimos, essa grande massa se implode e um buraco negro nasce dentro de nós. Escondemos o mundo para ver se esquecemos que estamos nele. Finalmente entramos no nosso próprio buraco e nos esquecemos ali na escuridão. No escuro ninguém pode nos ver como somos e se tal coisa não pode ser feita, então estamos seguros da dor da existência, da dor da não aceitação, da dor da inferioridade, da dor de ser apenas um entre multidões. 
Mas a luz revela tudo. Tudo se faz. Tudo se torna. Mesmo na escuridão da noite, com um pequeno faixo de luz é possível ver a sombra projetada das coisas, é possível ver que estamos ali.
Amo o calor da luz. Eu, que mais pareço um cometa gelado caindo em direção a ela, a luz transforma as coisas, cria brilho em uma simplória pedra de gelo suja. 
É esse calor abundante e aquecedor que me afasta dessa matéria escura que se expande as vezes ao meu redor. 
Eu existo porque a luz me molda. A luz me dá forma. É assim que esqueço que um dia fui sem forma e vazia. É assim que me aceito no universo. 
Tudo que tem luz no universo é para ser olhado, se não existisse a luz, não existiria a observação. Sem luz não poderíamos ler palavras e nem ver o interessante aspecto galáctico dos olhos.
De olhos fechados é impossível ver a luz. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara Senhorita, aqui venho eu lhe agradecer. Não sei se tu considerarás isto um elogio, mas quero lhe pedir para que escreva, muito. Confesso que visito este pequeno mural todos os dias na expectativa de novas composições de palavras. Você tem o dom da escrita. Mas, particularmente a sua escrita, me faz sentir emoções de nostalgia, felicidade e melancolia, uma entrelaçada nas outras. Fico feliz em ter descoberto essa escritora maravilhosa que tu és. Sua expressão por esse meio ainda cativará muita gente, tenho certeza. É uma pena que poucos conheçam o tesouro que aqui se encontra (e, se me permite a confissão, sou egoísta e me recuso a compartilhar esse mundo que descobri com outras pessoas (digo mundo porque toda palavra abre um novo universo)). Saiba que tem um(a) admirador(a) de seus arranjos e pouco importa meu gênero. Aqui está minha reverência a você, cara escritora.

Miss Nobody disse...

Caro(a) anônimo(a), saiba que arrancastes os meus pés do chão, esse chão de concreto que nos impede de sentir a textura do que somos parte, somos parte da terra. E por falta de sentir os nossos pés em um lugar familiar olhamos para o céu que nos lembra de onde estamos, mesmo perdidos entre prédios e construções da mão humana. Teu comentário me deu vontade de abrir os braços e abraçar as nuvens. E cantar. Eu encontrei alguém que me faça sentir familiar onde estou, alguém que sente o universo sobre nós. Alguém que se importa em ler este aglomeradinho de palavras feitas da mesma composição da alma. Eu te abraço mentalmente, alma querida. Por ter me feito sonhar com teu comentário. São tempos difíceis para quem quer escrever pois as pessoas não querem mais saber de sentir. Elas querem cobrir a terra. Mas há plantinhas que nascem das rachaduras do cimento. E somos essas resistentes plantinhas, demonstrando de onde somos.