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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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sábado, 26 de setembro de 2015


Imagine um pequeno ser que fica combatendo algo invisível e que foge dentro do próprio cérebro para não adormecer no silêncio, imagine um pequeno ser que não quer ter sono. Quando escurece a dor desse ser é tão exposta que dormir e enfrentar a escuridão da noite se torna perturbador e tão compressivamente triste que a luta se transforma em se manter mais uma vez desperto. E tudo o que esse ser sabe de si mesmo é que ele está lutando contra uma metáfora de não querer adormecer. Tudo que sabe de si é que quer abrir os olhos, é que está frio demais nesse coração caverna e tudo treme internamente como se fosse desabar enquanto por fora a rigidez das pedras mostram a estase do tempo. Quando se está muito tempo nas profundezas de uma caverna você tende a ficar cego. 

Quando você está encoberto por um sombra, o tempo a torna cada vez mais densa, até que você acaba por se tornar inteiramente sombra, encolhida em um lugar onde a luz do Sol não a pode refletir, você passa a não existir para si mesmo, é o Sol que te faz existir, e febrilmente você irá guerrear para sentir aquele calor te dar forma mais uma vez, mas até a luz solar tem o tempo exato para viajar e abraçar outros horizontes. A luz não mais te impressiona, seus olhos não mais a reconhecem por mais que tudo dentro de você a compreende fisiologicamente. Você passa a absurdamente querer ouvir a luz, sim, você quer ouvir a luz chegar, como um choque elétrico diante dos seus olhos.

Na escuridão só uma coisa evidência os sentidos mais amortizados, o que te faz sair para fora de si não pode ser qualquer som, tem sons que fazem os seus ouvidos caminharem nas ondas e tem sons que fazem os ouvidos se taparem e apressarem o passo a se esconder do perigo.  O que te faz sair é tão somente a doce sutileza das ondas sonoras, uma tal voz que não se ouve com frequência, uma voz como uma canção que você imerso na escuridão de pensamentos tão turbulentos a ouve em eco suave.  Um estalo elétrico acontece magicamente dentro de sua mente, é o que te faz querer olhar de onde veio aquele som tão doce, você começa a querer escutá-lo mais de perto, você quer então poder ver o que está transmitindo-o. Quando você sente, está longe, bem longe de onde esteve, e você percebe que a sua guerra não é a  de não querer adormecer e sim de querer ardentemente acordar.  

 Você quer alcançar aquele som de qualquer maneira e esse movimento faz abalar as suas estruturas internas e tudo se encaixa no seu devido lugar e o seu encolhimento se transforma em explosão que causará um pequeno orifício no nada, e era o que faltava para a luz atingir as suas entranhas sombrias.

 Lá no fundo da escuridão é possível ver uma imagem que se tornou tão desconhecida, você não reconhece mais o que é você mesmo, leva um tempo para luz chegar novamente ao mundo gelado dos seus olhos. 

Não é um barulho qualquer que te faz sair da escuridão, não são multidões de palavras ao vento e tampouco terremotos de olhos que te farão correr para um lugar que você ainda não está forjado para encontrar. Você está como uma brecha de um circuito esperando o condutor que se encaixe na sua corrente elétrica estática. 

 Quando se mora em uma caverna não são os olhos o sensor mais forte, o sensível se torna a audição, e só o que pode te salvar é uma gota d'água, uma simples gota d'água que ao cair no chão silencioso de uma caverna é como um estalo na alma, e daquela gota se faz uma concavidade e dessa concavidade aquosa é que tão logo algum orifício trará a luz do Sol novamente. Um simples gotejar faz a alma juntar harmonias solares. 

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