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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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quinta-feira, 5 de novembro de 2015


Em um lugar esquecido vivia um pequeno pássaro que todos os dias ao anoitecer cantava uma canção de apenas um verso, apenas uma melodia repetida de uma tristeza atormentada, era uma canção de morte, não havia palavras e de sua entonação já se sentia tarde demais. 
Era um pássaro de mato selvagem, de ervas danosas, de ninho espinhoso. 
Era um lugar abandonado, sempre habitado, mas nunca moradia, era uma gaiola ao céu aberto, uma prisão sem cadeado. Ninguém queria fazer parte daquele lugar, e o pequeno passarinho olhava cândido todas as árvores se esticando devagar mesmo sem sair do lugar, ele se admirava do quanto elas cresciam para todos os lados. E ele se encolhia, apertava suas asinhas para sentir seu frágil corpo, e cantava, como eu queria ao invés de voar, abrir as asas como um ramo de árvore e me estender silenciosamente e devagarinho, como eu queria que minhas plumagens se alongassem aos céus, eu queria tanto ser de um lugar só mas ser tantos lugares em um só. 
Eu queria tanto ser uma árvore com alma de passarinho. 
Tinha medo da sensibilidade do seu corpo, as árvores lhe pareciam tão robustas e imponentes e apesar da sua aparente sequidão externa podia-se observar os delicados detalhes que vem do chão, de uma cor úmida e misteriosa, que faz voar os olhos como mãos. 
E o passarinho mais uma vez encolhido sentia um frio para se expandir mas não sabia como fazer isso, ele sempre teve medo de abrir as suas asas, porque quando ele as  abrisse seria pássaro então. 
Já era um pássaro paisagem, amortecido pelo soturno silêncio, já era aceito de não saber o som do vento dançar as penas. Achava que nem penas tinha, porque o frio era sua pele mais macia.
Mas chegou um dia em que o pequeno pássaro jamais se esqueceria, ele acordou como de costume procurando algum espinho desafinado pelo tempo afim de assobiar. 
Logo lhe calhou uma ideia da qual já não mais sabia, queria ver lá embaixo, queria ver se o chão subia. 
Fazia tempo que ele não sentia o impulso mímico que o olhar lhe movia, parece que seu olho sabia o que é que lhe via. 
E de atento nem se bulia, sem entender o que era aquele passarinho a descansar livre sobre o rasteiro tronco da sua prisão. 
Era um passarinho tão bonito que inquieto se mexia, tinha uma asa sobre o peito e a outra se abria.
E o passarinho cantava em rodopios como se quisesse pegar altura, mas já cansado, pra lá e pra cá se renuncia. 
Pequeno pássaro olhava tudo aquilo como quem nascia, e já não sabia cantar o que sempre ouvia, já então sabia que sua canção era de aplanar e inquieto reverenciava o vento como quem quer pedir para descer suave. 
O passarinho bonito aquietou-se para olhar o que seria essa transmissão de cantos, cada um no seu canto conhecia a linguagem secreta que ali havia. 
Sem perceber, pequeno pássaro aprendeu os passos que no olhar cabia, e sentia que quando pássaro bonito lhe olhava é como se as asas lhe abria. 
E foi assim que olhou também em uma das asas do pássaro bonito, que havia apertando o peito um bico bem por dentro, que vez ou outra beliscava e sem piedade lhe rodopiava e o olhar lhe afastava.
Era dois em um só, um pássaro dentro de um pássaro. E entendeu, que pássaro bonito só poderia voar quando o pássaro de dentro libertasse a outra asa. 
E os dois se viam, pássaro bonito levava o medo de sentir alturas enquanto pequeno pássaro levava o medo de mergulhar para o chão.
Mas os dois não sabiam se chegar a hora um dia iria em que no mesmo ar se encontrariam.

1 comentários:

Erick P22 disse...

Afável como um abraço na alma...♥