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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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sábado, 28 de dezembro de 2019


Nobody knows this little Rose --
It might a pilgrim be
Did I not take it from the ways
And lift it up to thee.
Only a Bee will miss it --
Only a Butterfly,
Hastening from far journey --
On its breast to lie --
Only a Bird will wonder --
Only a Breeze will sigh --
Ah Little Rose -- how easy
For such as thee to die!


Emily Dickinson.



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019



Guardei teu poema favorito em segredo
abro o livro que contém ele 
pra te procurar
e sou descoberta sorrindo 
o livro e eu e o segredo de ser seu
nas mesmas páginas 
que te abraçaram
eu achei teu poema 
nas páginas de um livro que já tinha
e se tornou novo outra vez
o poema é um pedaço teu
que encontrei
eu também o abraço
pois redescobri o mesmo poema 
que teus olhos já sentiram
teu poema e eu 
é como um segredo saber que é só seu
meus olhos também podem te ver 
nas palavras
passo em silêncio pela tua alma
nas folhas desse livro
poemas e fragmentos de livros marcados
se tornam um pedaço da sua alma
na alma de outro
onde se descobre que também vivemos ali
nas palavras de outra alma
marquei teu poema favorito
num livro meu
pra você também viver lá. 


segunda-feira, 9 de dezembro de 2019



Dentro de uma capa de asas esquecidas
eu olho um corpo encolhido
essas asas são quase um manto
protegendo algo frágil
lá embaixo está uma ferida coberta
onde as asas se fecham
eu guardiã de mim mesma 
inventei essas asas 
para sentir o abraço
meu corpo precisa mais de vestir as asas do que usá-las
asas para dentro  
meus braços são livres
mas é como se nunca os tivesse aberto
eu não posso voar estou ferida
as asas não se mexem
mas me sinto cobrida por fora 
camada do que já não vejo como asas 
eu criei as asas mas não lembro como faze-las funcionar
elas já não podem se abrir sozinhas
alguém tenta puxar suas extremidades anestesiadas 
mas ela ainda está endurecida pra baixo contra o corpo 
não consigo abrir meus braços
de dentro a minha ferida quente me faz querer abafa-la 
pra não me queimar
e eu me esqueço das minhas asas
alguém me mostrou meu reflexo de fora
as asas amortecidas estavam lá impotentes penduradas 
de um lado e do outro
tornei-me cair 
as asas para dentro podem pesar
foi o que aprendi
o meu interior se inclina se enverga 
tentando me mostrar o aperto
eu preciso me expandir
a ferida é isso
algo pinica por dentro
qual a sensação quando os voos da mente 
encontram o voo do corpo?
sinto o medo da minha própria envergadura
a ferida está me expulsando pra fora
eu empurro as asas
e já as faço bater vez ou outra sem sair do lugar
antes de voar tenho que aprender a usa-las
abrir e fechar 
estou fraca mas já entendo a corrente de ar
dentro e fora
aspirar e expirar
mesmo assim não consigo levantar o voo
qual é o impulso que preciso?
eu quero conhecer a liberdade das asas  
eu não aguento mais o reflexo do corpo
eu quero sair
eu quero ir
estou com as asas abertas
olhando as imagens
de um voo distante
mas ainda não fui. 


domingo, 10 de novembro de 2019




Visitante silencioso
deixe uma flor 
na porta da minha solidão
eu abro a porta 
e mesmo não havendo nada
eu vejo a flor
eu imagino seu perfume 
de quem acabou de passar
eu olho pra todos os lados
procurando seus passos
suas costas frescas de emoção recém saída
há uma flor invisível
na porta do meu sorriso
há uma flor invisível
que não me canso de esperar
e me faz abrir a porta todos os dias
na ânsia de encontrá-la 
só pra saber que esteve aqui
e eu deixo você chegar em silêncio
do outro lado da porta eu não quero fazer barulho
que é pra não interromper teu gesto
e eu sinto o teu gesto
uma correspondência esperada
a campainha do coração toca
e eu corro pra porta mais uma vez 
meu sorriso chega antes da flor
sua flor de silêncio.





sexta-feira, 13 de setembro de 2019



Estou fechando meu mundo
parece que algo se foi
algo está morrendo
e eu não sinto vontade de salvar
não sinto mais 
não quero que ande em mim
não quero mais abrir essa porta
e não entendo
algo morreu em mim
mas eu não quis fazer o enterro
A porta está entreaberta 
mas eu não quero ouvir suas batidas e passos
O vão entre mim e essa porta
tem me assustado
eu não entendo porque minha pele se fechou
toda emoção saiu de mim
Eu mantenho a porta entreaberta
mas não sinto a curiosidade da brecha
algo sem fôlego grita
não se aproxime
eu não estou aberta
sinto o frio dessas palavras
eu não estou aberta
não ande em mim
você se foi
O vão dessa porta hesitante
me diz que eu não sei o
que você é pra mim
eu deixei você entrar
mas algo em mim
não quer morar em ti
Esse frio sou eu?
ou é só mais uma tempestade?
estou encolhida?
ou não quero te receber?
O frio entra pela fresta da porta
mas eu não tenho força de
levantar e fechar
os cantos me suspiram
e eu não sei se quero te ver
estou tão longe das coisas materiais
deixei de existir tanto
que já não tenho força de levantar
desse chão
por favor não fique triste
eu vou fechar a porta
da minha solidão.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019




No chiado da água e o vapor
procuro um abraço
Eu fujo para a água
quando me sinto solitária
quase queimo minha pele
quase sinto que eu e essa água
somos um só
nuvens de vapor
paredes que choram
Eu fujo para a água
quando quero conforto
quase quero me derreter
no grito do toque que falta
no grito do coração que quer ser tocado
quase água
quase eu
transparente me aqueço
transparente deixo escorrer minha pele
não arde 
já queimei mais por dentro
os poros gritam uma saudade
faz um frio quente na superfície óssea
não sei explicar
borbulha tristeza osteoporosa
o som das águas 
o único lugar que conhece minhas entranhas
meu corpo frágil de amor
silêncio a vapor
quero que a água alcance esse espaço
de fora
eu preciso de proteção
pequenas eternidades de som
sinto morar debaixo d'água
meu corpo nu veste essa sensação
que não sei nomear
tempo mudo
a pureza me habita
como a água que cai 
e empoça meus pés. 



sexta-feira, 7 de junho de 2019


biologia da fantasia.

Vivo em um jardim soterrado
apesar de toda a beleza do jardim
estou debaixo das suas terras
uma única semente irrigando
a superfície lá fora
quantos poetas morreram tristes
mesmo tendo um jardim de vida interior
mesmo cheios de tanta boniteza
Uma vez alguém disse que a sabedoria
é mais útil ao que recebe
do que ao seu próprio portador
a sabedoria precisa de fluxo
como um coração chafariz
de águas nascentes renovadas
jorra do interior
mas precisa de movimento
para se manter viva e saudável
A sabedoria e a poesia
caminharam juntas hoje no jardim
a sabedoria é uma senhora cansada e
que gosta de andar devagar
a poesia essa menina radiante e sonhadora
passeia pelo mundo querendo abraçar
com seus braços invisíveis
o nada de todas as coisas
a poesia esse delírio andante
ela é toda braços mãos e toque
vive distraída com seu potinho
de tesouros secretos
as vezes a poesia se sente solitária
em suas procuras
mesmo com seus potinhos polinizadores
ela semeia, e todo semeador conhece
a solidão de esperar crescer
nesses dias de pausa
ela caminha com a sabedoria
juntas a sabedoria solidão e poesia
andam sobre o coração jardim
sendo a sabedoria avó
a solidão mãe
e a poesia filha
se eu pudesse mostrar suas feições
em que observo no silêncio debaixo
das minhas terras
quando juntas tem ares de afeto
a poesia está no colo da solidão e ambas
estão sendo amparadas pela sabedoria
nessa tríade a sabedoria lhes empresta
seus grandes olhos sua visão profunda
Para cuidar de um jardim
há necessidades além das forças físicas
as sementes que nem entraram na terra
ainda precisam ser sonhadas
como plantar algo em que você não acredita?
como fazer germinar algo
se você não dispõe a imaginação do seu futuro como planta?
é certo que brotar é sempre uma surpresa
e que as coisas precisam ser acreditadas
A sabedoria é ver crescer é acompanhar
os ciclos as estações
é o silêncio do tempo
A solidão é o rachar e abrir da semente
afundada na terra procurando formas
de se expandir
A poesia é a alegria do que levanta frágil
ao vento é a descoberta da inocência de nascer
é ver num broto pequeno com duas folhas principiantes
lado a lado
aberturas de um ser alado
e dessas duas  folhas mais duas se abrirem em seu miolo formando mais asas
pequeninas asas folhas asas galhos
Solar no coração da terra
sou infestada dessas pequenas explosões
A sabedoria me ensinou que eu amo os galhos e folhas secas tanto como amo
as fluorescências das folhas recém chegadas de clorofila
as vezes se espera nascer o que não vai brotar,
mas é culpa ter esperado se você nunca sabe o que virá a nascer?
Nunca se sabe se uma semente ou outra nascerá
e mesmo assim poesia continua abrindo suas terras
Ela aprendera tanto o prazer de estar
no chão, de andar em silêncio com a solidão
ela já não inveja os pássaros
ela quer ser livre para também não voar
A poesia se afeiçoou a gravidade
ao interior das coisas caídas
ela está onde as coisas fazem morada
no desejo de ficar
A poesia se afeiçoou a mim
seja de que forma for a poesia compreendeu
nessas caminhadas ermas por meu quintal
que mesmo sabendo que tudo é frágil e sem controle sobre o amanhã
por a vida ter um fim que outrora nem se sabe seu começo
que ela ama esquecendo por um instante sobre o sofrimento de tudo
Ela ama em silêncio, e vive em seu jardim
de receber pássaros caídos e que se perderam
pássaros sementes que assim como ela não se cansam de deixar pelo caminho
alguma lembrança de primavera para quem precise voltar
E o que seria a primavera senão um plantio de fantasias pulsantes?


sábado, 19 de janeiro de 2019


madrugada, ronrons de gatos a tintilar 
o peito
câmera lenta de uma concha à beira
do mar
eu vim ser beijada pelas espumas
sinto borbulhas de pérolas
num lugar onde tudo cintila
no vazio negro de uma concha
ecos marítimos
conexão à distância
conchas florescem? 
florescer, palavra além das rosas
o peito querendo amar a abertura
isso é florescimento
desejos de conchas
acústico chamado
meu peito chia de um som de amor
o mesmo som dos gatos
mas tão inaudível pois necessita de toque
um pianista é a chuva para o piano
nota por nota, um som escondido
só as mãos é que sabem ouvi-lo 
mãos ouvir?
sim
mãos falam e ouvem, linguagem de 
silêncio
tirar o som de um objeto cheio 
de som oculto
mágica do toque
os sons não estão à vista
é necessário chegar até eles
é isso que faz as conchas serem
tão especiais?
lembram de coisas guardadas
sempre há algo no mundo
esperando ser aberto
baú dos teus braços
minhas costas de concha
respirar uníssono
olhar nos teus olhos e dizer
te respiro
sons e conchas
corpos e mudez
estetoscópios do seu rosto em
meu peito
ser ouvida na sua forma de concha
é como ser achada
no meio da areia do mar.