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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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sexta-feira, 7 de junho de 2019


biologia da fantasia.

Vivo em um jardim soterrado
apesar de toda a beleza do jardim
estou debaixo das suas terras
uma única semente irrigando
a superfície lá fora
quantos poetas morreram tristes
mesmo tendo um jardim de vida interior
mesmo cheios de tanta boniteza
Uma vez alguém disse que a sabedoria
é mais útil ao que recebe
do que ao seu próprio portador
a sabedoria precisa de fluxo
como um coração chafariz
de águas nascentes renovadas
jorra do interior
mas precisa de movimento
para se manter viva e saudável
A sabedoria e a poesia
caminharam juntas hoje no jardim
a sabedoria é uma senhora cansada e
que gosta de andar devagar
a poesia essa menina radiante e sonhadora
passeia pelo mundo querendo abraçar
com seus braços invisíveis
o nada de todas as coisas
a poesia esse delírio andante
ela é toda braços mãos e toque
vive distraída com seu potinho
de tesouros secretos
as vezes a poesia se sente solitária
em suas procuras
mesmo com seus potinhos polinizadores
ela semeia, e todo semeador conhece
a solidão de esperar crescer
nesses dias de pausa
ela caminha com a sabedoria
juntas a sabedoria solidão e poesia
andam sobre o coração jardim
sendo a sabedoria avó
a solidão mãe
e a poesia filha
se eu pudesse mostrar suas feições
em que observo no silêncio debaixo
das minhas terras
quando juntas tem ares de afeto
a poesia está no colo da solidão e ambas
estão sendo amparadas pela sabedoria
nessa tríade a sabedoria lhes empresta
seus grandes olhos sua visão profunda
Para cuidar de um jardim
há necessidades além das forças físicas
as sementes que nem entraram na terra
ainda precisam ser sonhadas
como plantar algo em que você não acredita?
como fazer germinar algo
se você não dispõe a imaginação do seu futuro como planta?
é certo que brotar é sempre uma surpresa
e que as coisas precisam ser acreditadas
A sabedoria é ver crescer é acompanhar
os ciclos as estações
é o silêncio do tempo
A solidão é o rachar e abrir da semente
afundada na terra procurando formas
de se expandir
A poesia é a alegria do que levanta frágil
ao vento é a descoberta da inocência de nascer
é ver num broto pequeno com duas folhas principiantes
lado a lado
aberturas de um ser alado
e dessas duas  folhas mais duas se abrirem em seu miolo formando mais asas
pequeninas asas folhas asas galhos
Solar no coração da terra
sou infestada dessas pequenas explosões
A sabedoria me ensinou que eu amo os galhos e folhas secas tanto como amo
as fluorescências das folhas recém chegadas de clorofila
as vezes se espera nascer o que não vai brotar,
mas é culpa ter esperado se você nunca sabe o que virá a nascer?
Nunca se sabe se uma semente ou outra nascerá
e mesmo assim poesia continua abrindo suas terras
Ela aprendera tanto o prazer de estar
no chão, de andar em silêncio com a solidão
ela já não inveja os pássaros
ela quer ser livre para também não voar
A poesia se afeiçoou a gravidade
ao interior das coisas caídas
ela está onde as coisas fazem morada
no desejo de ficar
A poesia se afeiçoou a mim
seja de que forma for a poesia compreendeu
nessas caminhadas ermas por meu quintal
que mesmo sabendo que tudo é frágil e sem controle sobre o amanhã
por a vida ter um fim que outrora nem se sabe seu começo
que ela ama esquecendo por um instante sobre o sofrimento de tudo
Ela ama em silêncio, e vive em seu jardim
de receber pássaros caídos e que se perderam
pássaros sementes que assim como ela não se cansam de deixar pelo caminho
alguma lembrança de primavera para quem precise voltar
E o que seria a primavera senão um plantio de fantasias pulsantes?