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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

 

Desculpe esse texto é contraindicado pra você que tem tripofobia. 




Se dar conta de que por dentro há muita coisa funcionando independente de nós, do nosso lado de fora, é uma das coisas mais fabulosas da vida, como as coisas aparentemente silenciosas e escondidas fazem tanto em seus lugares ocultos para manter as maiores funcionando o mais perfeito possível, sempre os mesmos pontos tão debatidos aqui dentro de mim, as coisas minúsculas e até mesmo consideradas insignificantes, todas elas juntas mostrando que sem elas não somos nada.

Tudo as vezes pra uma grande maioria passa despercebido, quase como se não estivesse lá até que se comece a dar defeitos, até que o de dentro emita sinais de degaste do lado de fora, outras vezes só acreditam na sua dor quando ela é visível por fora e nem mesmo assim é capaz de sensibilizar, sempre foi assim, mesmo a vida sendo tão rara, você percebe e talvez tarde demais sinta e valorize aqueles órgãos que tanto negligenciou ou não a vida é também imperfeita ela mesma dá sinais prematuramente de que as coisas podem dar errado as vezes independente de quem somos ou o que fazemos, é um dos grandes aprendizados dolorosos da vida e que nos exige a última humildade. 

Muitas vezes penso nos meus órgãos, nas minhas tripas lá dentro, as vezes me pego perguntando com a mão no peito se está tudo bem lá, sempre fui muito solitária e desenvolvi conversas interiores de todos os tipos, eu converso muito com esse coração que ainda me mantem funcionando, tenho grande respeito por ele apesar de tudo ele ainda continuar fazendo circular dentro de mim a vida que as vezes custo a enxergar do lado de fora, quando nem eu mesma consigo me levantar em todos os sentidos. 

As minhas tripas ao contrário nunca foram muito silenciosas, desde cedo conhecendo e sendo amadurecida pela dor, talvez porque sou sensível demais, percebo tudo demais, sinto muito. Nasci para o invisível, essa é quem eu sou, desde muito cedo comecei a ouvi-las e percebê-las, eu cirurgiã de minha própria alma, abrindo-me, dissecando parte por parte desse mistério impalpável, querendo tocar o que ecoa por dentro, sentir e saber onde dói. Se ver não funcionando direito é doloroso, quando você só queria que seu cérebro e coração voltassem a responder juntos. 

Escrever as vezes é pra dar protagonismo a elas, as minhas entranhas, tão falantes e inquietas, sempre as sinto tão expostas mesmo quando ninguém as vê ou sente, caminho por aí toda aberta, uma ferida viva, eu nunca cicatrizei, parece tudo tão machucado aqui dentro, é isso que vim dizer. Me faz pensar nessas horas solitárias comigo mesma o quanto de dor invisível também me habita se aglomerando em meus órgãos e por eles me mandando sinais de meus desgastes e sobrecargas. 

Meus órgãos dramáticos querem gritar por mim, eu estou aqui mundo, eu sinto muito a mim mesma por doer tanto a ponto de quem fala é quem está mantendo esse corpo nos bastidores, tudo isso que ninguém pode ver nem mesmo o melhor médico e cirurgião, não aparece na tomografia minha dor, mas ela ainda assim é tão expressiva, ela tenta sair, é sempre um alívio quando ela sai toda por essas lágrimas tão carregadas de sentimentos e tão maiores que esse texto. 

É sempre difícil encontrar quem olhe o que está no coração, o que não está amostra, o que de certa forma até tentamos esconder, miseravelmente falhando até não segurar mais. Alguns conseguem enxergar e nos tocar lá dentro dessas mesmas entranhas, sempre me comovo porque sinto falta do que é real e verdadeiro, tenho essa necessidade de ser tocada além da carne, sentir lá dentro primeiro, a sensibilidade de ser tocado na alma. Tenho também essa necessidade de ser abraçado por algo que não existe nesse mundo, sentir o seu invisível abraçado, acolhido, amado, as vezes querer isso faz doer, querer que fiquem mesmo depois de ver nossas entranhas assustadoras nem sempre bonitas e perfeitas. 

Alguns dias eu me sinto tão patética e sozinha quando tudo o que eu queria era só alguma forma de carinho que me tocasse sempre que eu precisasse, sem pedir ou falar, pequenas demonstrações que eu não estou invisível apesar de tudo o que eu sentir nem sempre poder ser falado ou visto. Isso não me faz me amar menos, as vezes eu só preciso de carinho e ser amado como uma pessoa normal. 

Está vendo, as tripas estão saindo novamente, completamente sentimentais e escorregadias. Tenho pensado em doação de órgãos e transplantes, será que essas entranhas sentimentais tão machucadas ainda podem viver felizes em outro corpo um dia? Podem servir a outro chamado, a outra vida? Não quero que elas passem a minha tristeza a outra pessoa, essa é minha autópsia, é o meu medo e dúvida, será que se qualificam pra eu ser uma boa doadora de órgãos, as vezes parecem tão usados, desgastados, machucados, é como se tivessem hematomas por toda parte por dentro, estou me sentindo quebrada, impactos de quedas silenciosas, pancadas e furos que nem aconteceram fisicamente. Ainda posso me lembrar quando criança sentindo uma estrofe de canção tão consciente do que dói e ninguém vê, a frase era tão infantil, mas cheia de sinceridade, eu entendia desde ali, "tenho um coração com buraquinhos", é verdade, mas espero que ele salve uma vida pelo menos um dia, como tem me sustentado até aqui.