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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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segunda-feira, 30 de março de 2020




Minha pele tem conversado comigo 
no meio do abandono 
quando sinto falta de me sentir
ela me lembra que eu sou carne
ela me pede um abraço que não sei como dar 
me deito e me cubro 
me protejo no meu chão 
no meu abraço de cobertor
eu conheço tanto esse processo 
se encolher e ficar só
me acostumei a desaparecer 
a minha luz está fraca
iluminações corporais existem
sentir que sente
translúcida 
como se o sol andasse com os seus pés
pureza na pele 
a existência tocada por ela mesma
firme de que pertence ao dia que acorda
eu quero estar onde as coisas puras moram
e eu toco o silêncio
tão vivo que posso segurar nas mãos nos dedos
o silêncio me tocou 
as palavras sopram amor e criação
o meu nada existiu
toquei onde precisou ser tocado
minha pele é o papel enfim.



sábado, 28 de março de 2020





Seca como uma folha de outono
sem poder cair
sou guiada pelos sons
espero pelo sussurro da voz do vento
meu velho amigo
estou morta e ainda te ouço
eu sou a menina que conversa com o vento
estou secando e quero encontrar a vida
a última folha de uma árvore nua
cheia ou vazia tu nuncas se atrasas
solitário e andarilho vento
eu sou folha e sou árvore
quero ouvir o seu chamado 
tu chegas como um amado 
assobiando pra eu levantar
da minha janela crias movimento
é visto porque és sentido
mesmo que não vejam as suas asas
te realizas tocando o mundo 
emprestas tuas asas e vais embora 
da minha janela acorda as minhas cortinas
quando não quero ver a luz
eu me guio pelo seu som
e então eu posso cair entre o som do vento
esperando ser levada
vento, vento, vento
meu sopro nesse papel
também pode criar movimento?





domingo, 22 de março de 2020




Eu ainda deixo você saber em pequenos rastros
quem sabe eu ensaio o caminho da sua volta
ponho flores na sua estrada
laços de fitas e rendas nos galhos secos
mãos que trabalham com retalhos
enfeito essa borda da estrada já tanto pisada
o outono e eu fazemos das nossas folhas caídas poesia
tapete pra quem vai passar 
passo primeiro quando não tem ninguém
conheço bem os caminhos do vazio
a primavera é solitária com suas sementes 
faz todo um trabalho invisível de semear
só depois é que dão notícia da sua beleza
só depois é que ela aparece
passo por último quando todos já se foram
entardecida gosto de andar sozinha 
por onde todo o mundo já andou
imaginando os caminhos que caminham ao meu lado em silêncio
devagar faço um pequeno caminho por onde você andou
eu carrego meus passos esquecidos tentando imaginar os seus
procuro os sinais da sua passagem onde nem tem
coloco lembranças como um botão de rosa que vai abrir no outro dia
descubro uma cestinha de sementes adormecidas no coração
me derramo na estrada que sou invisível 
estar por último e ver mágica 
como deixar algo e sair correndo antes para ver ao longe 
eu vejo o depois de um canto das árvores
eu deixo um sorriso para alguém embrulhado nas asas do vento e sopro
mas até hoje não sei se dentro do coração se perguntam 
se alguém passou por aqui antes
se sentem que fui eu
se esperam me encontrar ou eu voltar naquilo que me acharam
que imaginam meu cheiro pois o lugar ficou diferente 
e ainda há meu cheiro nos troncos das árvores
estou imaginando o seu por aqui nessas estradas solitárias 
eu receberia uma chuva de folhas 
como se fosse 
sua mensagem oculta



você sorriu?




terça-feira, 17 de março de 2020




Inspiração celeste

cadê o seu toque em minha pele
tenho caminhado anestesiada 
não sei dizer o que estou sentindo 
se estou sentindo
como se nada pudesse tocar onde eu preciso
resfriamento e esvazies 
continuo falando sem som por um grito abafado
minha garganta vive mais cheia de ar
como se quisesse trazer algo que não está lá
ar de palavras que nem se formaram 
os lábios se abrem como uma sede 
a pele parece inteira calada 
enquanto o diafragma manda sinais 
e meu cérebro sente falta da minha pele
eu quero chegar até a superfície
sentir alguma profundidade tocada por cima
sentir a inspiração na minha pele
mas apalpo e não me sinto 
o diafragma manda sinais 
o ar é o único que está circulando
meu coração quer ser tocado
mas não encontro resposta de minhas lágrimas
eu espremo as lágrimas como palavras
mas nem as lágrimas querem falar
de dentro pra fora procuro o abraço de mim mesma
a tristeza está velada
o sofrimento está velado
minha alma está velada
minha pele está velada
das tumbas eu 
arranho a minha estrutura conformada
eu quero falar em sentidos
despertar minha nova pele.