- Miss Nobody
- Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.
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os olhos dela são de vidro
e eu posso sentir
a leve melodia de águas tranquilas
quando por um instante
meus olhos encontram os dela
os olhos dela são de vidro
e eu posso ver
a delicadeza das águas límpidas
escondidas com silêncio
os olhos dela são de vidro
e eu posso entrar
para beber doçura sempre que olhar
os meus olhos são trovejantes
preciso entrar de mansinho
sem mostrar a tempestade
para que nos olhos dela
o encanto das águas bondosas
cantem para as pedras de gelo nos meus olhos
e me derretam lentamente
como as fontes aquáticas dela
os olhos dela
são aquários infinitos
que guardam o oceano pacífico.
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos).
Me abraça Fernando Pessoa, eu nasci pra ser tão ridícula, Drummond me abraça eu sou muito gauche na vida, Lispector não tem jeito eu vou ser sempre a boba, você mesma disse que é preciso também não ter medo do ridículo, e então minha amiga de alma, está aqui todo meu coração, um palhaço triste.