- Miss Nobody
- Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.
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sexta-feira, 27 de outubro de 2023
Me deram um coração
plantinha silvestre
Rasteira
Quase invisível
Alguns olhares
despreparados olham e dizem:
"isso aqui é só mato".
Olham e veem só mato?
Me deram um coração
plantinha silvestre
porque sabiam
que eu ia precisar dele
mesmo não gostando
de ter que sempre aparar tudo
Para não verem tudo que posso ser
Eu aprendi a me podar
Cortar e encolher
Um coração de erva danosa acham
Quem dera mesmo uma hera venenosa
Uma planta praga dizem
quanto mais se arranca
mais impregna e se espalha por tudo
Uma plantinha teimosa
que continua a crescer
Tenho que fazer a limpeza mas tudo cresce muito e rápido
Quantas vezes me vi arrancada
e do mesmo lugar renasci
A mesma florzinha
minúscula
Mas em sua pequenez
Uma cor rasteira
Em meio ao verde vasto
É tão fácil me pisar
A parte gostosa e macabra
é sentir a mão se afundar lá no fundo
caçando minhas raízes pra arrancar
É uma dor deliciosa sentir os beliscões de filamentos de raízes grudadas sendo exposto do lado de fora
Veja
Eu sou
Maior do que você pensava
Aqui dentro dessa terra
Minhas raízes em suas mãos
Meus cabelos cacheados
Abaixo de tudo
Meu segredo
Minhas sementes dormentes
Infinitas elas ainda se revelam
Me chamam de praga
Mato selvagem
Eu atrapalho
Eu sou essa praga sentimental
Eu renasço
Não sou erva daninha
Eu sou resistência.
Eu sou o amor renascendo
em suas mãos duvidosas
de que eu ainda existo.
De sua bruxa verde,
seja minha abelha.
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