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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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quinta-feira, 18 de maio de 2023

 



Quando eu crescer, o suficiente para ir sozinha para onde quiser, gostaria de ir para um país distante. 

Gostaria de ir para uma ilha distante. Gostaria de ir para uma ilha onde não houvesse ninguém. Gostaria de ir para uma ilha sem tristeza ou sofrimento.

Uma ilha sem adultos, sem crianças, sem colegas de classe, sem professores, sem mãe. 

Nessa ilha, eu subiria em árvores quando quisesse, nadaria no oceano quando quisesse e dormiria quando quisesse. 

E nessa ilha, pensaria na cidade onde apenas eu não existo. As crianças iriam para a escola como sempre, os adultos iriam para o trabalho como sempre, e minha mãe faria as refeições como sempre. 

Quando penso na cidade onde apenas eu não existo, sinto-me aliviada. Eu queria ir para muito, muito longe. 


                                                        Hinazuki Kayo




quarta-feira, 3 de maio de 2023

 


A poesia sempre foi minha primeira casa, quando a imaginação encontra os mistérios dos sentimentos e das sensações com todas as suas sinuosidades e ondulações mágicas chamando o coração a desenhar pelas palavras e sentir o gosto das coisas invisíveis. 

Faz um tempo que a poesia sumiu dos meus dias, e do meu coração ela se tornou camuflada entre tantos cansaços e dores, tenho precisado dessa que foi a minha amiga mais antiga, minha mãe e conselheira mais verdadeira quando mais precisei ela estava lá me ensinando a ouvir a mim mesma, a ouvir meu coração e como ele sempre diz sobre as coisas que sente antes que eu as torne em palavras e compreensão do sentir.

Sinto falta de você como me enchia antes, e eu derramava, explodia, transbordava coisas cheias de seu amor pelos detalhes ocultos que habitam secretos esperando nossos olhos. A verdade é que estou soterrada, eu e meu coração, e te escrevo para que possa me encontrar nesses destroços onde já não consigo gritar por socorro, onde já não respiro com facilidade, onde não há uma viva alma que se lembre onde estou. 

Sinto sua falta minha querida amiga, abrindo terras em meu coração, criando mundos mágicos e encantados, dando voz ao meu interior, me fazendo falar o que minha boca não consegue dizer. Você se lembra como brincávamos de inventar histórias, de sonhar incansavelmente com elas se realizando mesmo quando tudo era solitário e doloroso ao redor, você me fazia acreditar, me fazia sentir que estou aqui, e que coisas boas ainda podem me encontrar, e que a beleza está mesmo nas coisas invisíveis, silenciosas e minúsculas. Mesmo existindo profundamente entre palavras escritas, você sempre me fez prestar atenção nesse meu mundo interior caçador de tesouros do invisível.

Sei que  preciso deixar a sensibilidade sair, mas tem sido tão difícil transformá-la em palavras e dizer o quanto tudo isso dói, saber que muitas vezes que fui sensível demais não me amaram, saber que dizer o que sente é ter coragem de se mostrar vulnerável e fiel a você mesma, ao mesmo tempo a sensibilidade é tão frágil como forte. Tenho repetido ao meu coração todas essas coisas, e eu aprendi muitas outras, tenho tentado ser forte em meio a todas as minhas fraquezas, porque continuar mesmo que parando muitas vezes pelo caminho mostra que eu não desisti ainda, e tem sido tão solitário sem você fazendo seus ecos aqui no meu coração apagado e mudo, sem suas faíscas vez em quando acendendo a minha existência em magia. Quero sentir a sua luz em toda minha escuridão, seu toque me abraçando por dentro como se quisesse ser parte das estrelas. 

Eu queria acreditar mais nas coisas como antes, sentir como antes, é um eco em minha cabeça, porque eu sei que o meu coração já não é o mesmo, já aguentamos tanto, é como ter as asas cortadas e olhar a imensidão, quantas coisas fizeram com que a sensibilidade se acuasse amedrontada como um bichinho que só pode se defender encolhendo em si mesmo. Mas eu ainda sinto muito, de uma forma diferente, sinto de uma forma desacreditada, talvez a esperança seja mesmo uma coisa essencial a vida, e o acreditar importante para se continuar vivendo. Mas onde encontro de novo essas coisas dentro de mim, querida amiga, há tantas pedras em cima do meu corpo, aquele mundo encantado que sempre protegi e achei que ninguém poderia tocar e destruir foi aos poucos sendo derrubado, era meu único lugar no mundo, eu que sempre me senti distante, e ainda sinto, como se não fosse de lugar nenhum. 

Eu posso te esperar poesia? É como se minha terra não fosse capaz mais de produzir e fazer nada crescer, é um sentimento muito triste e pesado sentir que não vai mais ser feliz nesse mundo embora tente bastante ficar perto de coisas bonitas e continuar tentando aprender e descobrir novas coisas, e uma tristeza ainda maior por sentir que parece ser impossível alguém ser feliz ao seu lado, ou acreditar que você não é capaz de fazer os outros felizes só por ser você, e se sentir verdadeiramente aceita como você é, sem precisar pensar em ser nada, apenas você. Isso sempre doeu não é, sempre. Todo mundo encontra sua felicidade longe de mim mas não comigo, como se precisassem de mim só por um tempo, até que encontram algo melhor e mais feliz, enquanto eu fico daqui de longe a olhar tudo ir embora. 

Eu só quero acreditar no que é real, as ilusões já me machucaram muito, por eu acreditar sempre no impossível, no invisível, e querer continuar sonhando, mas estar nesse lugar é sempre solitário no fim, acreditar e esperar sozinho, talvez por isso que não te encontro dentro de mim, eu estou me escondendo de ti, escondendo a minha sensibilidade num mundo para o qual sempre serei invisível. 

Então querida poesia, venha me encontrar e não demore muito, eu tenho esperado a vida toda por tudo, mas você sempre pode me encontrar e libertar meu coração. E nós juntas, continuaremos a escrever sobre os segredos do meu coração, e eu existirei nessas palavras tão invisíveis quanto eu mesma, mas que ainda assim são parte da minha alma. 

Poesia, quando chegar me dê um abraço na alma, pra eu saber que é você, tenho sentido tanta falta de como só você me abraçava com suas palavras, e envolvia o meu ser de um amor que não existe aqui no plano corpóreo, e eu sinto falta desse amor, você que tantas e tantas vezes me mostrou que eu não estou sozinha, e que existem palavras que abraçam e que colocam pra fora tudo que existe por dentro e que ninguém pode ver. Mas você vê. Minha grande fada do invisível, com suas asas que abraçam a existência dos que esperam sozinhos. Assim, como John Keats, um desses que você me fez conhecer pela doçura de sua alma: Longe, longe, a ti voarei, nas suas asas invisíveis da poesia. Eu quero seu vento transpassando a minha existência, como uma efervescência, que me devolva o gosto na boca, e as palavras borbulhantes, como um beijo a muito esperado. 


Eu te amo,

De uma asinha quebrada.