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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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terça-feira, 29 de novembro de 2022

 

Faz um tempo que você aprendeu andar, já sabe atravessar a rua sozinha, é grande o bastante mas ainda se sente uma garotinha olhando o outro lado da rua indecisa de qual a melhor hora pra ir até lá. Você está sozinha, ninguém segura sua mão pra atravessar mais a rua, você tem medo e está assustada, há muita gente no mundo, há muito barulho, muito movimento, muitos lugares ocupados e você se sente fora do espaço e do tempo, perdida você olha as pessoas trafegando livremente, apressadas, desinteressadas, mal se olham quem dirá seguram as mãos umas das outras. É que as vezes faz falta alguém segurar sua mão pra atravessar junto, olhar junto, sonhar junto, mesma direção e outros clichês, ver o futuro e mesmo que não o veja precisamente e de imediato, acreditar. Faz falta acreditar. Bem que alguém disse, amar é mais solitário do que parece, acreditar no amor também. Você não quer mais acreditar sozinha, paralisada olhando o outro lado, você sabe o que é olhar e só ver as costas de alguém indo pra longe, se afastando, você se sente invisível e não pode fazer nada, só olhar as pessoas irem enquanto você fica lá atrás, você ainda ficou mesmo quando tudo foi embora, você ficou por último olhando passarem, você é de outro tempo, as coisas demoram no seu coração, sempre foi difícil se despedir ou acompanhar as pessoas e seus ritmos, então você fica mais um pouco, acredita mais um pouco, espera mais um pouco, se dá mais um pouco. Sozinha, sempre sozinha. Você imagina uma presença que não sabe se está mais ali e dói, você sente falta desse ao lado no meio da multidão, ao lado e não distante, dentro de você uma mão se estende pra tocar o nada, ninguém vê ninguém escuta o esforço, parece tudo inalcançável. Você espera uma mão, é triste. Você espera olhar em frente e ver o caminho sendo possível. Você sente a dor que é não se enxergar no futuro, ter dificuldade de se ver em tudo, talvez por essa distância tão sentida dentro de você, inevitável mas ainda assim você imagina mesmo sem esperança imagina, e você até atravessa a rua como se não estivesse sozinha e sem saber pra onde ir. Esses dias você ouviu algo interessante sobre quando aprendemos a andar pela primeira vez quando crianças, caímos, choramos e não paramos e nos fixamos em pensar só na queda, ali naquele instante não existe pensamentos negativos, você continua, instintivamente persevera em dar os primeiros passos desajeitados, vai de qualquer jeito, imperfeito, cambaleando naquele chão que te sustenta apesar do desequilíbrio e do medo, "do chão não passa" é o que dizem, e os passos vão ficando mais firmes à medida que tenta, você se levanta e alguém te chama pra andar de novo e você vai, as vezes você recebe um abraço no final, você corre pra um abraço, tem alguém te esperando lá no final, do outro lado te chamando, te apoiando, te incentivando, continua continua, você vê alguns sorrisos e encorajamentos, você vai sentir falta disso depois de crescer depois de ter caído tanto e não ter visto nada no final. Você quer ir ao encontro de algo, um abraço talvez, você sabe o que quer, você não quer pensar tanto, quer sentir mais, ser fora um pouco. É estranho pensar no tanto de aprendizado que o corpo adquiriu até aqui quase que automático sem precisar pensar sobre o que fazer, está guardado mesmo quando você se sente um fracasso, você sabe que já conseguiu tanto, estar de pé, se levantar e se equilibrar por si só já é um desafio, você sabe disso. Mas você vai estar lá no final de tudo quando eu precisar lembrar qual a linha de chegada que verdadeiramente importa? Você vai estar lá me esperando na mesma linha de chegada quando eu demorar? Você vai estar lá quando eu cair e precisar de um tempo pra levantar e correr de novo? E se afinal eu não ser boa em correr no tempo certo? Você ainda vai estar lá mesmo quando eu não souber mais acertar os passos, mesmo quando o corpo falhar e se esquecer como anda. Você ainda vai estar lá?