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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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domingo, 26 de julho de 2020



E eu também desbotei
soltei a cor
quebrei galhos
despetalei
caí sequei
eu parte dos fragmentos da natureza
eu também decomponho 
desmorono em terra
cores gastas que se recompõe em outras cores
num lugar despovoado vim cair
o vento me deitou longe das minhas raízes
tão leve essa morte que a queda é um deitar
ainda sentia as últimas seivas de vida
esvaindo 
as cores se apagarem
e na minha solidão achei que iria sumir
tudo foi ficando escuro se fechando em mim
um interior comprimindo nos últimos líquidos
resistindo com delicadeza em manter seus formatos 
foi quando mudei de cor
eu estava inteira de um jeito diferente 
não desapareci de mim 
intacta e em outro tipo de vida
na outra extremidade da paleta de cores
seca
nua
claríssima 
e mais facilmente quebradiça 
foi quando ela não pisou em mim
me colheu do chão 
como quem colhe um tesouro esquecido 
me carregou dentro de um livro 
me olhou com a gentileza das palmas das mãos
eu permaneci uma folha uma marca uma vida do que fui
eu vivi a minha forma seca 
estive em páginas e caixinhas 
num quase cemitério de delicadezas e fragilidades
de histórias já secas e amareladas 
com a beleza de emoldurar a lembrança de uma folha, 
da marca da passagem dos tempos e dos estágios da vida
histórias finalmente vistas através das cores empoeiradas
quem me diria que morrer teria ainda tanta história de viver assim
que eu depois de ser árvore fui folha além dos galhos e das cores
uma simples folha que permaneceu viva depois de morta
pelo simples fato de ser olhada 
de ser guardada 
de ser preciosa a alguém
e sermos histórias dentro de histórias 
na memória de quem acolheu.