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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

 

Meu coração tem trinta anos

mas as vezes parece que ainda não nasceu

as vezes parece que já viveu tempo demais

eternidades e efemeridades de batida em batida

Trinta anos tentando harmonizar meu corpo

sem alto falantes ele bate

em águas paradas ou turbulentas 

segue seu ritmo quando as minhas estruturas tremem 

a música sai por inteira completa em todas suas intensidades

eu que por tantas vezes pareci estar por um triz 

e vazando

de apertos que não eram sanguíneos ou bombeados

me pergunto quantas vezes ele também se salvou sozinho

nas suas válvulas e fluxos além das minhas mãos e consciência

fazendo tudo fluir pelo menos por dentro

Meu coração tem trinta anos

ele suportou as flechas invisíveis 

tão certeiras em meu peito 

uma por uma fui tirando 

numa imensidão de camadas também invisíveis

o coração ainda bate lá 

no coração que parece guardar outro coração

quando tudo está dolorido 

eu o procuro debaixo de todas as camadas

para até além dele mesmo

pois um coração alojado em sua gaiola de ossos 

ele também parece distante e mesmo preso

e sua linguagem parece chamar outros nomes que não conheço

nessa caixa torácica 

nessa gaiola 

nesse canto compassado 

tão metricamente orquestrado de um corpo que ainda pulsa

lá está meu maestro do silêncio

em sua caixinha de fluxos musicais

em harmonia nas minhas desarmonias

regendo o peito aberto  

Meu coração de trinta anos

sei que estás aí

e como ouço

ardendo 

borbulhando 

esquentando a raiz de todas palavras 

que foram música sanguínea antes de tudo. 



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