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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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quarta-feira, 3 de junho de 2020



Se eu pudesse lhe dizer o quanto meus poros gritam e emitem ressonâncias lunares, micro mundos das partículas que parecem querer falar como um vapor expelido de uma pequena cratera, faz tanto tempo que a delicadeza não passa por essas minúsculas fortalezas, suavidade de sentir-se abraçado ainda nos dedos, o clamor da verdade é tão alto no espírito, sentir que é de verdade, sentir que faz parte, pertence, elos de proximidade e intimidade de presença, estar sabendo que está, seja lá ou aqui, e eu já quis gritar e explodir como uma estrela, cansada de girar em círculos, quem iria entender a minha própria pele, atender meus chamados meus ecos meus silêncios minha voz qualquer coisa de que eu circunde. 
Orbitas lembram como algo está ligado a outro, harmonias celestes e universais pairam sobre minha cabeça me ensinando o som das órbitas de mim mesma, eu quero invadir uma cidade feito um meteoro perdido, caído do céu, pedaços que vagueiam o espaço de mim, tão brilhantes e fazendo chuvas de faíscas, os humanos cultivam uma tradição de fazer um pedido as luzinhas perdidas que riscam o breu da madrugada, passageiras como um pedido, orações secretas às estrelas. 
Alguma criança aprendeu conversar com estrelas e meteoros despedaçados mas não aprendeu a estar no seu próprio aglomerado de corpos falantes, eu queria gritar um abraço, explodir de amor que nunca conheci ou senti, faço um pedido pra mim as minhas pedras perdidas, quantas vozes orações secretas pedidos e encantamentos a pedras suspiraram, grandes ouvidos da terra, faço um pedido pra mim, estou clamando os pedaços. 
Vou te falar de satélites, órbitas e magnetismos, me incorporo num satélite, estar lá no alto das distâncias pode ser pacificador, a calmaria de um abandono consciente, pairo sobre tudo, a lua me conta um segredo, como entendemos de orbitar, o céu acima de minha cabeça me ensina sobre a solidão e as insignificâncias. 
Minha lua está tão pálida, seu globo brilha na intensa profundidade do escuro quanto mais escuro mais brilha, sua verdadeira face é opaca e poeirenta, parece um móvel esquecido em algum porão ou sótão, lua envelhecida e cheia de poros e marcas, suas cicatrizes até brilham e criam espetaculares rabiscos faíscas de luz cores imitando os astros maiores, e encanta minha noite com sua presença cheia de fases e mistérios. 
A lua me ensina sobre estar no lugar certo na hora certa e refletir os brilhos, sem roubar o brilho de ninguém sua face recebe e emite partículas dos brilhos que a circundam em si, ela que sempre fica ali as margens de algo maior, mas olha como brilho causa a sua obscuridade. 
Estou rodando, circulando, e me disseram pra ir embora, sair do caminho da vista, chutaram a minha lua e eu fiquei ali no meu lugar chorando porque existo assim por achar lugar em estar as beiras as margens a espreita de mundos a um pertencimento das esperas, pra onde a lua iria, ela está sempre ali pairando sem orgulho apenas existindo em observar distâncias. 
Tenho sido satélite todo esse tempo, um prazer em rodear a existência, eu pertenço as órbitas, e como agora sinto meu coração esquentar de pensar em girar, dançar em volta do que ele acha belo, por um instante sinto que posso brilhar apenas por existir assim, serena no ar, te dando a minha mais remota presença. 
Há três objetos celestes que me contemplam: a lua, os cometas, os meteoros. Todos conhecem o que é opaco, mas que em contato com o além de si mesmo, se transformam em coisas cintilantes e aladas que surpreendem os olhos passageiros, roubam a cena dos astros, que belas pedras, que belas extensões de si mesmo, se jogam a luz solar as atmosferas as órbitas, e brilham de tudo. Queria ver um cometa um dia, queria me sentir pela primeira vez nesse que em tantas vezes me fez viajar o espírito pensando nas coisas esquecidas e demoradas, anos para sua passagem e acontecimento, sua única viagem por vez, sua vez de brilhar, de sair do oculto e do esconderijo, vindo de lonjuras, do exterior do sistema, de lá das margens, do esquecimento.
Das pedras o regozijo, pedras aladas do universo, a hora de uma estrela que não é estrela, o poeta dizia, que tristes são as coisas consideradas sem ênfase, eu as contemplo, eu as venero, era uma flor no asfalto de um planeta era uma pedra que iniciou o fogo era uma pedra em chamas viajando o espaço, quão belos são os objetos refletores, um cometa a brilhar na queda, um meteoro a fazer chuva da sua desintegração, a lua a se modificar a se transmutar, a se renovar estando ali, sua possibilidade de luz mostra passagens e tempos, vozes da singularidade mesmo sendo parte de um sistema binário ou gigante, a lua e a distância perfeita para se permanecer inteira, abatida como um escudo entre dois mundos, mas não despedaçada, não como os anéis exuberantes de saturno, histórias de reminiscências rodopiantes que mesmo no fim ainda tornam belo o que existiu, mas ali lua e inteira na sua distância perfeita. 
Algo dentro de algo maior dentro de algo maior, camadas do infinito, estou a me corresponder com a lua, trocando cartas com o céu, selos celestes, eu sou a criança que fazia pedidos as estrelas como se fosse chegar a algum lugar mesmo que esse lugar fosse aqui mesmo nesse planeta, ligada a um endereço distante, nesse silêncio retórico que apenas o eco localiza o coração, em que o prazer era simplesmente ecoar pela imensidão, pelo desconhecido, deslocalizar e deslocar ao remetente espaço, onde as repostas brilham sozinhas no fim coração, brilham no fim de um universo, como alguma pedra brilha vinda de lá de onde não havia cor aguardando. Quem sabe eu também esteja brilhando no fim de um olhar em algum lugar. 



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