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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

 


Então desejei voltar ser a transparência das águas nascentes

onde os pés descansam na clareza fresca 

poder ser bebida pura 

a beleza do invisível que me habita 

e esses mesmos pés massageados 

pela calma corrente que me passa 

me atravessando das mesmas partículas de invisível que me componho

meus esconderijos como tudo que se põe ao sol

Ser visível tem um preço nesse mundo 

Alguém um dia escreveu

"de que vale ganhar o mundo se perder a alma"

As vezes querer ser muito visível 

me deixa vulnerável as minhas faltas solitárias 

As faltas começam a assumir formas desconhecidas

Ser invisível não dói tanto quanto descobrir ser excluída quando visível

Apareço na mesma medida em que sinto vontade de sumir

Então eu quis ser desejada daqui de dentro dessa profundeza

O desejo distorce

Turva as minhas águas tão minhas 

Então me recolho em paz nas sombras 

Onde o não saber conforta 

Não precisar mais aparecer em lugar algum 

Completa entregue a minha escuridão iluminada 

Eu tento te atrair de longe nos espelhos dessa água onde vivo

Seu mundo e o meu

Espero te ver no reflexo dessa superfície 

quando as vezes se aproxima sem me ver

Esperar nos deixa frágeis e débeis

E eu sou naturalmente exposta de esperas 

Profundezas ainda a deriva 

Então desejei deslisar como essa água e areia 

escoando 

escorregadia

dispersa 

onde eu possa me derramar 

fina, leve e infinita

Cinzas desse corpo 

sopradas ao longe 

Enfim ela foi queimada até o pó 

desse coração que me queima viva 

como a bruxa e sua fogueira 

sem nunca se ver desfazer por completo

Brasas vivas ardem daqui do fundo desse oceano

Mas eu contraditória como sempre fui

Meto água no meu próprio fogo

A água que me possui 

Fria 

Deixo-a entrar secando as feridas do fogo

Escorrer todas as faíscas num abraço aquático

quando o fogo que pareceu me afogar 

essa água que me elevou a superfície 

Dois elementos de um mesmo ser 

Ariel em sua solidão aquática

Que por amor desejou ter pernas humanas 

para ir além das águas e andar em terra firme

Pelo mesmo motivo de ser vista.  



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